“A Ortodoxia manifesta-se, não dá prova de si”

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sexta-feira, 27 de março de 2009

Santo Abade Bento de Núrsia, Patriarca dos Monges do Ocidente - 14/27 de março

O Monge Bento, fundador da ordem monástica ocidental dos Beneditinos, nasceu na cidade italiana de Núrsia, no ano de 480. Com 14 anos de idade o santo foi mandado por seus pais para estudar em Roma, mas aborrecido com a imoralidade que o cercava, ele decidiu devotar-se a uma forma diferente de vida. Primeiramente São Bento fixou-se perto da igreja do santo Apóstolo Pedro na aldeia de Effedeum, mas as notícias sobre sua vida ascética o levaram a ir mais longe nas montanhas. Lá ele encontrou o eremita Romanus, que o tonsurou no monasticismo e o enviou para uma caverna remota como domicílio. De tempos em tempos o eremita trazia comida para o santo. Por três anos em total solidão o santo travou uma severa luta com as tentações e as venceu. Pessoas rapidamente começaram a se juntar a ele, ansiando viver sob sua orientação. O número de discípulos cresceu muito, que o santo os dividiu em doze comunidades. Cada comunidade era composta de doze monges e era um mosteiro separado. E para cada grupo o santo deu um hegúmeno-abade dentre seus discípulos experientes.

Com o Monge Bento permaneciam somente os recém-recebidos monges para instrução.
A rigorosa regra monástica, estabelecida por São Bento para os monges, não entrou no coração de todos, e o santo mais de uma vez tornou-se vítima de abuso e opressão.
Finalmente ele estabeleceu-se em Campagna e no Monte Cassino ele fundou o mosteiro de Monte Cassino, que por muito tempo foi um centro de educação teológica da Igreja Ocidental. No mosteiro foi criada uma extraordinária biblioteca. Neste mosteiro o Monge Bento escreveu sua regra, baseada na experiência de vida oriental dos Padres do deserto e nos preceitos do Monge João Cassiano, o Romano (comemorado em 29 de fevereiro). As regras monásticas foram aceitas posteriormente por muitos dos mosteiros Ocidentais (no ano de 1595 ela tinha sido publicada em mais de 100 edições). A regra prescrevia para os monges uma absoluta renúncia de suas posses pessoais, obediência incondicional, e trabalho constante. Ela considerava dever dos monges mais velhos ensinar as crianças e copiar manuscritos antigos. Isto ajudou a preservar muitos escritos memoráveis, provenientes dos primeiros séculos do Cristianismo. De cada novo postulante era requerido viver como um noviço obediente pelo decorrer de um ano, para aprender a regra monástica e tornar-se aclimatado com a vida monástica. Cada ação requeria uma bênção. O cabeça desta vida monástica comum é o hegúmeno-abade, tendo toda a plenitude de poder. Ele discerne, ensina e explica. O hegúmeno solicita o conselho dos mais velhos e dos irmãos mais experimentados, mas ele pessoalmente toma a decisão. O cumprimento das regras monásticas é estritamente obrigatório para todos e é visto como um importante passo em direção à perfeição.

São Bento foi agraciado pelo Senhor com o dom da presciência e da cura. Ele curou muitos dos seus devotos. O monge profetizou o seu fim antecipadamente.
A irmã de São Bento, Santa Escolástica, do mesmo modo tornou-se célebre por sua estrita vida ascética e foi elevada à dignidade dos Santos.

Orthodox Church in America
Traduzido pelo Sr. Dom Ambrósio, Bispo do Recife
Boletim Interparoquial de março de 2004

quinta-feira, 26 de março de 2009

"O Verdadeiro Herói da Quaresma é o Corpo"

Uma conversa com Jean-François COLOSIMO (“La Croix”, 15 de março de 2008)
Suplemento de SOP (Servisse Orthodoxe de Presse) nº 327, abril 2008
Tradução para a língua portuguesa: Manastir Sv. Apostola Petra i Pavla, BiH.

Por que, durante a Quaresma, os ortodoxos dão um tão grande lugar ao jejum?
A Quaresma é uma regra. Uma regra de jejum, universalmente aceita, muito estrita: sete semanas de abstinência de carne, laticínios, ovos e peixe. Durante dois meses, todo mundo renuncia ao sangue, à animalidade. Este jejum é acompanhado de períodos de abstinência severa, onde não comemos nada: bem como os três primeiros dias da Grande Quaresma. Muitas pessoas o fazem. E assim, na primeira refeição depois da comunhão eucarística que segue estes três dias de jejum rigoroso, o gosto das coisas é completamente extraordinário! Sentimos em nossos corpos a própria idéia de estarmos nas mãos de Deus. É uma das primeiras lições da Quaresma.

O jejum pode ser ele compreendido, no século XXI, como sendo uma privação só de alimentos?
É claro que não existe somente o jejum de alimentos! Não se trata de jejuar e ir ao baile todas as noites... mas comecemos primeiramente pelo ventre, pelo instinto. A Quaresma é um tempo de luto, mas dum luto jubiloso, pacífico, apaziguado, radioso. É bom que o corpo pague seu tributo. O jejum de alimentos permite ritmar diferentemente o tempo. Ele provoca rupturas interessantes: não podemos mais sair e receber. É um apelo extremamente forte na cotidianidade. Sobretudo, ele leva a pensar em outros jejuns: como o da carne, compreendendo o casamento. Existe também o silêncio, ou ainda o jejum do tempo: saber abrandar as coisas, no lugar de estar na agitação. Mas não escolhemos nosso jejum: é necessário passar pela suspensão da Criação na Liturgia e pelo jejum vivido em comunhão.

Como os ortodoxos vivem a Quaresma no plano litúrgico?
É um tempo de ofícios específicos, com textos próprios centrados sobre o sentido do retorno a Deus. A Liturgia da Quaresma descreve a queda do homem, sua história espiritual e sua salvação. A mistura do jejum e da abundância dos ofícios torna este tempo realmente particular para o ortodoxo. O horizonte de Páscoa torna-se verdadeiramente um horizonte de esperança, no sentido mais concreto do termo: o tempo pós Páscoa permitirá de reatar com um alimento vivificante e tornar leve a Liturgia.

Qual é o lugar da dimensão do partilhar?
A Quaresma não é somente um tempo forte de partilha litúrgica, mas também de partilha comunitária onde os ortodoxos se encontram. E lá, o personagem central e o pobre. Em grego, existem dois vocábulos para “pobre”: penês e ptôchos. O penês é aquele que tem necessidade daquilo que podemos cumular pela filantropia. O ptôchos é o pobre absoluto, o qual não podemos cumular a espera. Só podemos nos livrar dele dando-lhe aquilo que nos custa. Ora, o quê nos custa, senão nós mesmos? Este pobre é a imagem de Deus sobre a terra. Todas as privações da Quaresma não têm outro sentido além da caridade.

A Quaresma é então um tempo de conversão?
A grande palavra, é metanóia: o reverter-se, em grego, quer dizer arrependimento, o retorno a Deus (o contrário de metanóia, é a paranóia!). Logo, é um convite a descobrir que eu não sou o centro do mundo: antes de julgar os outros, devo me julgar a mim mesmo. A Quaresma é o tempo de julgamento. É necessário fazer esta experiência do julgamento de nós mesmos para chegar ao perdão. Não que seja bom em si julgar-se, mas nos é necessário compreender a que ponto estamos enfermos, para provar como somos perdoados e o quanto devemos perdoar. É o que os Padres do deserto chamam de penthos, a “jubilosa tristeza” ou a “alegria dolorosas”. Dolorosa, porque provamos na paciência, tal como o Cristo em Sua Paixão. Mas este sofrimento de estar longe de Deus tornar-se também uma alegria, pois que ele nos aproxima do Deus Que nos libera. A Quaresma é a experiência desta libertação. No deserto, fazemos a experiência de nossos limites, e eis que a graça ergue nossos limites.

Não existe certo risco dum dolorismo?
Absolutamente não! Lastimar-se antropologicamente sobre o limite, descobrir sua finitude e ver como ai habita o infinito de Deus, não é sofrer. O dolorismo é ainda muito de mim. Ora, justamente, a Quaresma nos convida a suspendermos nossa psicologia, este diálogo perpétuo do eu com o eu. A radiosa tristeza é compreender que somos libertados. Descobrimos o quanto, no sono e na saciedade, havíamos esquecido de Deus. Poderíamos nos afligir, mas a redescoberta de Sua presença é tão boa que nos encontramos num estado de ultrapassagem. Logo não é uma glorificação do sofrimento mas, muito pelo contrário, a redescoberta do amor louco de Deus.

O jejum e a vigília permitem estarmos atentos, no corpo e no tempo, à presença de Deus. Por que jejuamos? Para aprendermos a ter fome e sede de outra maneira, sair do biológico. Por que vigiamos? Para aprendermos a esperar, a vencer a noite e a obscuridade, vencer o esquecimento e o que mais se assemelha à morte: o sono. Para vencermos a irrealidade do sonho. Assim, fazemos o luto da ilusão que representa nossa vida biológica. Ao acreditarmos sermos imortais nos lançamos sobre os alimentos, nos lançamos sobre nossos leitos. Ora, a Quaresma é esta suspensão: eu não me lanço, antes me contenho e me examino: “Onde Ele está?” “O que Ele faz?”, “O que Ele diz?” É um tempo de espera. Nós rompemos com a morte – que representam nossos hábitos.

Como isto se traduz na Liturgia oriental?
A Quaresma é a ocasião de dois grandes textos da tradição ortodoxa. Primeiramente, o Grande Cânone de Santo André de Creta, que Olivier Clèment chama o “canto das lágrimas”. Ele evoca as lágrimas jubilosas que marcam o recomeçar do mundo. É a água do Gênesis, as águas do Mar Vermelho, a água maternal. É a água viva que sai do lado de Cristo sobre a Cruz. Estas lágrimas do homem são o sinal do retorno a Deus. O homem se redescobre capaz de render graças por ter compreendido que lhe era inútil lastimar sua sorte. Ele compreendeu que a Ressurreição não espera, que a graça não espera.

O outro texto que recitamos durante a Quaresma é a Oração de Santo Efrém:

“Senhor e Mestre de minha vida,
afasta de mim o espírito de preguiça,
de dissipação, de domínio
e de vã-loquacidade!

Concede a Teu servo
o espírito de temperança, de humildade,
de paciência e de caridade.

Sim, Senhor e Rei,
concede-me que veja as minhas faltas
e que não julgue a meu irmão,
pois Tu és bendito pelos séculos dos séculos. Amém.

Ó Deus, purifica-me a mim pecador (12 vezes).”

Por muito tempo achava esta oração simplíssima: perguntava-me porquê a Igreja lhe concede um lugar tão importante. De fato, ela é simples e difícil, certas vezes. Ela parece ir de si, mas é terrivelmente difícil pô-la em prática. E finalmente, é a oração mais difícil que eu conheço. Pois que se chegares a realizar este programa, logo és um Santo! Logo, estás na paz de Deus, tendo saído das vagas remotas do Mar Vermelho, estás a caminho da Terra prometida, saíste do mundo, fizeste a experiência deste outro mundo que é o Reino.

A Oração de Santo Efrém se acompanha de grandes genuflexões (grandes metanóias), que sublinham este corpo que ora, suplica e pede a tornar-se o corpo glorioso. Descobrimos a opacidade do corpo, para se dar contas do quanto ele tem sede e fome de tornar-se glorioso. O grande herói da Grande Quaresma é o corpo, porque o grande herói de Páscoa é o corpo.

Pois para a Ortodoxia, a Quaresma é indissociável da alegria pascal.

Quem não vive a noite pascal no Oriente cristão não sabe o quê é a Páscoa! Ele não conheceu esta alegria comunitária, ele não provou este corpo que, depois de semanas de privação, reata com o óleo e o vinho, com o cordeiro cevado e tudo o que a terra traz de bom. É o banquete do Reino no clamor do “Cristo Ressuscitou!”, até a manhã que é o renovo matinal do mundo. Não podemos compreender a Quaresma sem esta alegria pascal, sem esta explosão pascal, sem esta irradiação pascal. Nesta noite, no coração das trevas é a luz que se impõe, no coração da tristeza é a alegria que se impõe: a vida triunfa definitivamente da morte. Na hinografia oriental, o Cristo sai do túmulo ofercendo-Se ao inferno. E o inferno descobre que ele não pode conter Deus. A Quaresma é uma viagem que nos preparou a compreender tudo isto.

O quê entendes por “viagem”?
A Quaresma é um êxodo, uma peregrinação. O Judaísmo e o Islão são religiões à peregrinação. Menos o Cristianismo, onde não é uma obrigação. Pois que nossa peregrinação é espiritual: como não praticamos mais a peregrinação como uma obrigação, é a Páscoa que é esta viagem. Nós vamos em direção da Páscoa, que é o próprio lugar da passagem, a realização de toda coisa, a reconciliação de Deus e do homem no Cristo ressuscitado, porque aceitamos passar através da morte com Ele. A quarentena do Êxodo e aquela de Cristo no deserto se articulam perfeitamente: no Êxodo, vamos em direção à Terra prometida e Deus está adiante de nós, enquanto Cristo parte ao deserto para descer dentro dele.

Lá estão as duas grandes dimensões da Quaresma: Deus como nosso horizonte e Deus como nossa profundeza. A Quaresma é então quarenta dias de deserto, quarenta dias de morte, onde partimos a re-encontrar a vida nova. Levantamo-nos e partimos, mas não sabemos para onde. Existe ai uma dimensão abraâmica: eis todo problema desta viagem que, como aquela do Filho Pródigo, é o retorno do Exílio. Partimos em viagem mas sem bagagem. É pelo fato de termos aceitado de nos levantarmos que participamos deste erguer do mundo, desta re-Criação que é a Ressurreição. Não é inocente que na Igreja primitiva, a Quaresma preparava ao Batismo. O sentido do Batismo é aquele da Ressurreição: morrer e renascer com Cristo.

quarta-feira, 25 de março de 2009

OrtoFoto

Montenegro
autor: Goran Boricic

domingo, 22 de março de 2009

Os 40 Santos Mártires de Sebástia - Armênia (+c.320) – 09/22 março

No ano de 313 São Constantino, o Grande promulgou um édito libertando os cristãos das perseguições de fé e equiparou-os aos pagãos diante da lei. Mas seu co-regente Licinius favorecia aos pagãos e na sua parte do império decidiu erradicar o cristianismo, que era, lá, consideravelmente difundido. Licinius preparou suas tropas para lutar contra Constantino, que temendo uma rebelião, decidiu liberar os cristãos do seu exército.

Na época, um dos comandantes militares da cidade armênia de Sebástia era Agricolaus, um adepto zeloso do paganismo. Sob seu comando estava a companhia do forte da Capadócia – Bravos Soldados – que lhe renderam vitórias em numerosas batalhas. Todos eram cristãos. Quando estes soldados recusaram oferecer sacrifícios aos deuses pagãos, Agricolaus prendeu-os. Os soldados mergulharam em profunda oração e num determinado momento à noite ouviram uma voz: “Perseverem até o fim então vós sereis salvos”.

Na manhã seguinte os soldados foram levados a Agricolaus. Neste momento o pagão tentou lisonjeá-los. Ele começou a enaltecer seus valores, sua juventude e força; mas, exigiu-lhes a renúncia à Cristo, e por recompensa ganhar o respeito e as benesses do Imperador. Após ouvir novamente as recusas, Agricolaus deu ordens para algemar os soldados. O mais velho deles, Kyrion, disse: ”O imperador não lhe deu o direito de nos algemar”. Agricolaus ficou embaraçado e ordenou que os soldados voltassem à prisão sem algemas.

Sete dias depois, o renomado juiz Licius chegou em Sebastia e julgou os soldados. Os santos responderam firmemente: “Podem tirar as nossas insígnias e também nossas vidas, pois nada é mais precioso para nós do que Cristo Deus”. Em vista disto, Licius ordenou que os mártires fossem apedrejados. Mas as pedras voavam por eles inteiramente; e a pedra atirada por Licius golpeou Agricolaus na face. Os torturadores imaginaram que os santos eram guardados por alguma força invisível. Na prisão, os mártires passaram a noite a rezar e novamente ouviram a voz do Senhor, confortando-os: “Aquele que acreditar em Mim não morrerá, mas viverá. Sejam bravos, não tenham medo e obtereis uma coroa incorruptível”.

No dia seguinte o juiz novamente os interrogou na frente do torturador, mas os soldados permaneceram inflexíveis.

Era inverno, e havia um espessa neve. Eles alinharam os soldados e os colocaram num lago gelado não muito longe da cidade, sob guarda durante toda a noite. A fim de persuadir os mártires a mudar de vontade, uma aquecida casa de banhos foi instalada perto da margem. Durante a primeira hora da noite, quando o frio estava insuportável, um dos soldados não agüentou e teve um ímpeto de ir à casa de banho, mas mal tropeçara na soleira da porta, caiu morto. Na terceira hora da noite, o Senhor enviou consolações aos mártires: repentinamente apareceram luzes, o gêlo derreteu e a água do lago tornou-se quente. Todos os guardas dormiam, exceto um que fazia a vigília, de nome Aglaios. Ele viu no lago, uma radiante coroa sobre a cabeça de cada mártir. Aglaios contou trinta e nove coroas e imaginou que o soldado que fugira, tinha perdido a sua coroa. Em seguida, Aglaios acordou os outros guardas, tirou seu uniforme e lhes disse: “Eu também sou cristão” e se uniu aos mártires. De pé no lago ele rezava: “Senhor Deus, eu creio em Ti, em Quem estes soldados acreditam. Me junte a eles também e considere-me digno de sofrer com Teus servos”.

Pela manhã os torturadores viram com surpresa que os mártires ainda estavam vivos, e que seu guarda Aglaios glorificava Cristo com eles. Então tiraram os soldados da água e lhes quebraram as pernas. Durante esta terrível execução, a mãe do mais novo dos soldados, Meliton, pediu que seu filho não sofresse durante a execução. Eles colocaram os corpos dos mártires num carro para queimá-los. O pequeno Meliton ainda respirava e o deixaram na grama. Sua mãe então levantou seu filho e carregou-o sobre seus próprios ombros, atrás do carro. Quando Meliton ofegante deu seu último suspiro, sua mãe o colocou no carro ao lado dos corpos de companheiros de sofrimentos. Os corpos dos santos foram queimados e os ossos carbonizados foram atirados na água, para que os cristãos não os recolhessem.

Três dias depois os mártires apareceram em sonho ao abençoado Pedro, Bispo de Sebástia, e mandou-o pegar suas relíquias no local do “enterro”. O bispo acompanhado de vários clérigos recolheu as relíquias dos gloriosos mártires à noite e sepultou-as com honra.

Lives of the Saints
Orthodox Church of America
Traduzido por Irmã Irene
Boletim Interparoquial março de 2003

quinta-feira, 19 de março de 2009

OrtoFoto

Polônia
autor: Alicja Ignaciuk

quarta-feira, 18 de março de 2009

“O jejum”


Um jejum proporcional às tuas forças favorecerá a vigilância espiritual. Não se pode meditar as coisas de Deus com estômago muito cheio, dizem os mestres espirituais. Para um amigo da boa mesa, os segredos menos misteriosos da Santíssima Trindade, se assim se pode dizer, permanecem escondidos. O Cristo nos deu o exemplo com seu longo jejum; quando venceu o demônio, saía de um jejum de quarenta dias. Gostarias de consegui-lo com menor sacrifício? Depois, só depois, "... os anjos de Deus se aproximaram e puseram-se a servi-lo" (Mt 4:11). Para te servir, eles também esperam.

O jejum refreia a tagarelice, diz São João Clímaco (Escada, Degrau 14:34). Ele te fará misericordioso e disposto a obedecer; destrói os pensamentos maus e elimina a insensibilidade do coração. Quando o estômago está vazio, o coração é humilde. Quem jejua ora com espírito sóbrio, ao passo que o espírito do intemperante é repleto de imaginações e de pensamentos impuros.

O jejum é uma maneira de exprimir o amor e a generosidade; através dele, sacrificam-se os prazeres da terra, para obter as alegrias do céu. Uma parte excessivamente grande de nossos pensamentos é açambarcada pela preocupação com a subsistência e com os prazeres da mesa; gostaríamos de nos libertar dessa preocupação. Assim, o jejum se mostra como uma etapa do caminho da libertação, e um aliado indispensável na luta contra os desejos egoístas. Ao lado da oração, o jejum é um dos mais preciosos dons concedidos aos homens, caro a todos os que fizeram a experiência.

Quando jejuamos, sentimos crescer o nosso reconhecimento para com Deus, que deu ao homem o poder de jejuar. O jejum dá acesso a um mundo de cuja existência mal suspeitas. Todos os pormenores da tua vida, tudo o que se passa em ti e ao teu redor, é visto sob uma nova luz. O tempo que passa será utilizado de um modo novo, rico e fecundo. Durante as vigílias, a modorra e a confusão dos pensamentos dão lugar a uma grande lucidez de espírito; ao invés de nos revoltarmos contra o que nos contraria, nós o aceitamos calmamente, na humildade e na ação de graças; problemas que pareciam graves e complexos, resolvem-se por si mesmos, com a mesma simplicidade do desabrochar da corola de uma flor. A oração, o jejum e as vigílias são a maneira de bater à porta que desejamos ver abrir-se.

Os santos Padres muitas vezes consideraram o jejum uma medida de capacidade: se jejuamos muito, é que amamos muito; e se amamos muito, é que muito nos foi perdoado (cf. Lc 7:47). Aquele que jejua muito receberá muito.

No entanto, os santos Padres recomendam que se jejue com medida: não é preciso impor ao corpo uma fadiga excessiva, pois a própria alma se prejudicaria com isso. Tampouco é preciso começar a jejuar muito de repente; todas as coisas exigem uma adaptação, e cada um deve levar em conta a própria compleição e as próprias ocupações. Evitar alguns tipos de alimentos seria condenável: toda alimentação é um dom de Deus. Contudo, é prudente abster-se dos alimentos que causam moleza ou que só servem para deleitar o gosto: pratos muito condimentados, carnes, álcool, etc... Quanto ao resto, pode-se comer de tudo o que é barato e fácil de encontrar. Para os Padres, jejuar com medida significa, no entanto, fazer uma única refeição por dia, refeição essa suficientemente leve, para evitar a saciedade.

terça-feira, 17 de março de 2009

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Mosteiro de São João Batista - Grécia
autor: Iliana Giannousi

quinta-feira, 12 de março de 2009

OrtoFoto

Monte Athos, Grécia
autor: Pawel Zelezniakowicz

quarta-feira, 11 de março de 2009

Celebração Festiva

Foi realizada no último domingo (8/jan) “Domingo do Triunfo da Ortodoxia”, uma liturgia na Paróquia de Santa Zenaíde com a presença de padres e fiéis de todas as jurisdições canônicas do Rio de Janeiro.

O Patriarcado Ecumênico de Constantinopla esteve representado pelo Rev. Pe. Dimítrios Nikolayïdis da paróquia de Santo André, o Patriarcado de Antioquia foi representado pelo Rev. Pe. Marcelo da Catedral de São Nicolau, pelo Patriarcado de Moscou e toda a Rússia, o Rev. Pe. Vasily (Basílio) da paróquia de Santa Zenaíde e o Arcipreste Tercílio da Missão de São João Apóstolo, pela Igreja Autocéfala da Polônia os Revs. Pe. Marcos e Pe.Levi da Catedral da Santíssima Virgem Maria.

Pretende-se que essa data seja festejada todos os anos por todas as jurisdições ortodoxas do Rio de Janeiro.
A próxima celebração acontecerá na Paróquia de Santo André do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.

domingo, 8 de março de 2009

O Primeiro Domingo da Quaresma - Domingo da Ortodoxia


A palavra “Ortodoxia” foi tomada originalmente, com relação a esse domingo, em um sentido bastante restrito. Ela designava, quando essa festa foi instituída, em 842, a derrota do iconoclasmo e a proclamação da legitimidade do culto dos ícones. Mais tarde, o significado da palavra estendeu-se. Passou-se a entender por “Ortodoxia” o conjunto dos dogmas professados pelas igrejas em comunhão com Constantinopla. Um documento oficial, o SYNODIKON, que anatematizava nomeadamente todos os hierarcas, era lido, nesse domingo, nas igrejas. Parece que, no início da quaresma, a cristandade bizantina havia considerado como um dever e uma necessidade o confessar a sua crença.

Em nossos dias manifestamos, talvez, uma preocupação maior, o que antes não era o caso, de expressarmo-nos com mais cuidado acerca daqueles que erram e de separarmos, em seu pensamento, aquilo que é a parte da verdade e o que é erro. Porém, era bom e necessário que a Igreja “Ortodoxa” afirmasse sem ambigüidade sua própria atitude. As preocupações “ecumênicas” que ela partilha hoje em dia com as outras igrejas não poderiam significar um abandono ou uma diminuição de suas crenças fundamentais. Além é necessário eliminar do campo da Ortodoxia as ervas parasitas e não profanar o adjetivo “Ortodoxo” aplicando-o àquilo que poderia ser superstição.

Os textos lidos ou cantados às Vésperas e às Matinas desse domingo insistem sobre a realidade da Encarnação. Com efeito, a vinda de Cristo na carne constitui o fundamento do culto das imagens. O Cristo encarnado é a imagem essencial, o protótipo de todas as imagens. Algumas frases do Triódio exprimem bem o sentido profundo do culto concedido aos ícones.

"Em verdade, a Igreja de Cristo foi revestida do mais belo ornamento com os Santos Ícones de Cristo, nosso Salvador, da Theotokos e de todos os santos glorificados... Ao guardar o ícone de Cristo que nós louvamos e veneramos, não nos arriscamos a perdermo-nos. Pois nossa inclinação diante do Filho encarnado, e não a adoração de Seu ícone, é uma glória para nós”.

Os santos glorificados foram imagens vivas, ainda que imperfeitas, de Deus. Foram reproduções enfraquecidas da verdadeira imagem divina, que é o Cristo. Durante a Liturgia desse domingo, na leitura da Epístola aos Hebreus (Hb. 11, 24-26; 32-40), nós escutamos o inspirado escritor descrever os sofrimentos de Moisés e de David, dos Patriarcas e dos Mártires de Israel, daqueles dos quais o mundo não era digno, que foram flagelados, serrados, decapitados e cuja fé, entretanto, venceu o mundo. Estes foram as imagens inscritas, não sobre a madeira, mas sob a própria carne. Eram já uma prefiguração, já anunciavam o ícone definitivo, a Pessoa do Salvador.

Evangelho do dia não tem relação direta com as imagens ou com a Ortodoxia. Na leitura evangélica (Jo. 1, 43-52), vemos o apóstolo Filipe trazer à Jesus, Natanael que também irá tornar-se um discípulo, Jesus diz a Natanael: “Antes que Filipe te chamasse, te vi eu estando tu debaixo da figueira”, Natanael, assombrado por esta revelação, declara: “Rabi, tu és o Filho de Deus!”. Jesus responde que Natanael veria ainda mais que essa visão: “daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus descerem e subirem sobre o Filho do homem”.

Essas palavras oferecem um enorme campo à nossa meditação. Nós não sabemos o que fazia ou pensava Natanael sob a figueira. Hora de tentação, ou de perplexidade, ou da graça? Ou simplesmente de repouso? Porém parece que o Senhor não mencionaria esse episódio se o mesmo não houvesse sido um momento decisivo, um ponto crucial na vida de Natanael. Na vida de cada um de nós houve um momento ou momentos onde estivemos “sob a figueira”, momentos críticos, onde Jesus, Ele próprio invisível, nos viu e interveio. Intervenção que foi aceita ou rejeitada? Recordemos esses momentos... Adoremos essas intervenções divinas. Mas não nos detenhamos nelas. Não nos fixemos sobre uma visão passada. “Tu verás ainda melhor”. Estejamos pronto para a graça nova, para a nova visão. Pois a vida do discípulo, se ela é autêntica, vai de revelação em revelação. Nós podemos ver “os céus abertos e os anjos de deus subirem” em direção ao Salvador ou descerem sobre nós. Indicação preciosa desta familiaridade com os anjos que deveria nos ser habitual. O mundo angélico não nos é mais distante nem menos desejável que o mundo dos homens.

terça-feira, 3 de março de 2009

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Grécia
autor: Hadzi Miodrag Miladinovic

"A Entrada na Grande Quaresma"

A segunda-feira que segue o domingo da abstinência de laticínios é o primeiro dia da Grande Quaresma propriamente dita. Eis-nos então entrados nessa seqüência de quarenta dias que nos preparam para o tempo da Paixão da Páscoa. Antes de nos envolvermos nos detalhes dessas semanas de Quaresma, não é inútil considerar algumas características gerais da Grande Quaresma.

A primeira dessas características é, evidentemente, o jejum. Não se pode ignorar ou tratar superficialmente essa questão do jejum alimentar. Os Padres da Igreja e a consciência coletiva dos fiéis discerniram perfeitamente o valor espiritual, o valor da fé penitencial e purificadora da abstenção de certos alimentos. No entanto, seria um grande erro fazer consistir o jejum da Quaresma exclusivamente na observância dessa abstenção. O jejum do corpo deve ser acompanhado de outro jejum. A disciplina da Igreja nos primeiros séculos prescrevia, durante a Grande Quaresma, a continência conjugal; ela interditava a participação em festas e a assisntência a espetáculos. Essa disciplina pode ter se enfraquecido e não se apresentar aos fiéis, hoje, com o mesmo rigor que no tempo dos Padres da Igreja. Ela permanece, no entanto, como uma indicação precisa do espírito, da intenção da Igreja. Essa intenção é, certamente, que nós exercitemos, durante a Quaresma, um controle mais estrito de nossos pensamentos, de nossas palavras, de nosso atos, e que concentremos nossa atenção sobre a Pessoa e sobre as exigências do Salvador. A esmola é também uma forma de observância da Quaresma muito recomendada pelos Santos Padres. O jejum agradável a Deus é um “todo”, portanto não deve ser dividido entre os aspectos interiores e exteriores, mas os primeiros são os mais relevantes.

Uma segunda característica da Grande Quaresma consiste em certa particularidades rituais.

Relativamente à celebração das “Grandes Completas”, sabe-se que o ofício de Completas (em Latim “Completotium” - o que completa; em grego “Apodeipon” - o que vem depois do jantar) é o último dos ofícios do dia. As Completas normais, ou Pequenas Completas, constituem um ofício muito curto. Mas nas segundas, terças, quartas e quintas-feiras da Grande Quaresma, elas são substituídas por Grandes Completas, uma longa leitura de Salmos e de Tropários, entre os quais se remarcará uma longa oração das Escrituras, a Oração da Penitência de Manassés, rei de Judá.

Da mesma forma, a Litugia celebrada nos domingos da Grande Quaresma, não é a Liturgia habitual de São João Crisóstomo, mas a Liturgia de São Basílio, Arcebispo de Cesaréia no século IV. Essa Liturgia tem orações mais longas que aquelas da de São Joo Crisóstomo, com textos, às vezes, bastante diferenres.

Nas quartas e sextas-feiras, durante a Grande Quaresma, celebra-se a Liturgia ditas dos Pré-Santificados, isto é, dos Santos Dons consagrados antecipadamente. Não é uma Liturgia Eucarística, pois ela não comporta a consagração. É um serviço de Comunhão, no curso do qual clero e fiéis comungam Dons Eucarísticos que foram consagrados em Liturgia Eucarística anterior. A Liturgia dos Pré-Santificados acrescenta-se ao ofício de Vésperas. É por isso que ela deve ser celebrada à noite. Ela contém certos Salmos, Leituras das Escrituras e orações tiradas da Liturgia de São João Crisóstomo. Essa última é celebrada a cada sábado de manhã.

Na segunda-feira, terça-feira, quarta-feira e quinta-feira da I Semana da Grande Quaresma, na Grande Completas, lê-se o Grande Canôn de Santo André de Creta (dividido em quatro partes). E na quinta-feira da V Semana da Quaresma, em Orthos, lê-se todo o Canôn. É uma composição enorme, compreendendo 250 estrofes. Esses poemas são divididos em 9 séries de Odes. Elas exprimem a aspiração da alma culpada e penitente. Eles opõe a bondade e misericórdia de Deus à fragilidade do homem.

Mencionemos enfim - e, talvez, sobretudo - a admirável oração atribuída a Santo Efrém. Nela não se encontra poesia nem retórica como nas orações que acabamos de mencionar. Estamos agora diante de um puro impulso da alma, curto, sóbrio e caloroso. Ela é repetida na maior parte dos ofícios de Quaresma. É uma oração bem conhecida pelos fiéis ortodoxos. Relembraremos, no entanto, seu texto:

Senhor e Mestre de minha vida,
Afasta e mim o espírito de preguiça.
o espírito de dissipação,
de domínio e vã loquacidade.
Concede a Teu servo um espírito de
temperança, de humildade, de paciência e de caridade.
Sim, Senhor e Rei
Concede-me que veja as minhas faltas e que
não julgue a meu irmão,

pois Tu és Bendito pelos séculos dos séculos. Amém!